UM PLANO parte 1 -
Apesar do desconforto que, ele acreditava plenamente que seu plano daria certo. O desconforto era mais ou menos o mesmo que sentiu em seu primeiro dia de aula, ou como quando apresentou um projeto científico pela primeira vez.
UM PLANO parte 2 -
O levava a crer toda a literatura dirigida que consumiu até ali, as provas amplamente divulgadas nas mais diversas mídias e suas próprias conclusões empíricas. Deu início aos últimos preparativos.
UM PLANO parte 3 -
Posicionou junto à fonte o artefato cuidadosamente preparado. O balde - com água, os mais variados insetos que pôde coletar em seu quintal na última semana e pilhas e baterias de todo e qualquer aparelho eletrônico ao alcance de sua mão naquele dia – seria a base do tão aguardado processo gerador pelo qual ansiava.
UM PLANO parte 4 -
Desde que ele fosse o elemento condutor entre o balde e a fonte transformadora quando tudo fosse conectado, não havia dúvida. Daria certo.
UM PLANO parte 5 -
Tomou então todos os comprimidos e xaropes que conseguiu coletar na casa e pintou-se com aquela tinta plástica cujo galão pela metade estava convenientemente esquecido na garagem e preparou-se para o grande momento.
UM PLANO parte 6 -
Imediatamente ao lado de onde até então se guardava a tal tinta ficava a chave geral que abastecia toda aquela estrutura. Desligou-a, e correu para seu posto.
UM PLANO parte 7 -
Enfiou os pés descalços no balde, e, sabedor da provável demora até o procedimento tivesse início, relaxou. Ignorando as picadas dos insetos que insistiam em sobreviver e o forte cheiro da tinta plástica, revisou seu plano e novamente convenceu-se de que tudo daria certo. Afinal, dera certo anteriormente, e em circunstâncias bem mais favoráveis. Ele leu. Ele viu. Dará certo.
UM PLANO parte 8 -
Ouviu seu nome sendo gritado pela casa. Posicionou o instrumento metálico na fonte, e segurou firme. Tremendo de expectativa e ansiedade perante a iminência da realização de seu demorado, zeloso e minucioso plano, pensou: “Vai ser legal. Vai dar certo, e então voarei. Andarei pelas paredes, e no teto. Ou farei qualquer outra coisa espetacular. Quero só ver a cara da mamãe!”.
UM PLANO parte 9 -
Naquele escuro que já lhe era familiar ouviu de novo seu nome, acompanhado de ameaças. Ouviu o som de um clique e viu o clarão e viu o fogo. Depois tudo ficou escuro de novo, mas disso ele não tomou conhecimento.
UM PLANO parte 10 -
A babá que supostamente cuidava do garoto naquela noite não conseguiu explicar como um menino de oito anos movimentou-se pela casa tantos artefatos e tão tarde da noite sem que ela observa-se algo de estranho ou que desse falta do infante. Alega que preparava o jantar no momento em que a luz faltou, quando chamou pelo mesmo e foi à garagem para verificar a eletricidade, onde a religou.
UM PLANO parte 11 -
Acharam-no agarrado a um garfo, conectado a uma tomada elétrica. Estava coberto em tinta plástica azul, que se inflamou. Jazia junto a um balde cheio de insetos e pilhas. Vestia uma cueca sobre o pijama e um lençol amarrado ao pescoço. Deixou bilhete aos pais, na qual pedia que guardassem seus gibis, pois partia em missão e da qual voltaria “senhor de grandes poderes! Vocês vão ver só!”.
UM PLANO parte 12 -
O corpo foi severamente deformado. Ainda assim, a autópsia revelou a presença de medicação restrita no sangue. O processo todo foi muito confuso, e nada ficou provado. Os pais desapareceram alguns anos depois e, de acordo com relatos desencontrados, a babá tornou-se leitora da sorte e médium itinerante.
UM PLANO parte 13 -
Por uma notável coincidência, naquela mesma noite e minutos depois do incidente aqui relatado, dois terços do País mergulharam em um apagão energético que duraria meses e afetaria gravemente a economia nacional. Muitos atribuíram tal pane ao feito de Júlio, e ainda hoje se comenta tal fato.
UM PLANO parte 14: Final -
Mesmo agora, depois de décadas, crianças, adolescentes e mesmo adultos daquela região afirmam ouvir de vez em quando a voz de Júlio afirmando coisas do tipo:
“Prestem atenção. Deu certo. Sou invisível, intangível e imortal. E é uma merda.”
sexta-feira, 19 de março de 2010
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