quarta-feira, 7 de abril de 2010

O FIM DO MUNDO ÓLHOLHÓ

VONNEGUT ClearMind Freeware recupera e publica:

A ponte Hercílio Luz já era. Surpresa nenhuma. Sustentava-se por seu próprio peso. Tenho certeza de que caiu no primeiro tremor, antes da segunda do que andam chamando de “convulsões” das águas das baías. É minha opinião, qualquer engenheiro que discorde que se foda e fique à vontade pra discordar. Ela caiu. Não resolveram o problema em dois séculos e meio desde a primeira discussão séria a respeito da manutenção desse monumento. Nem monumento era, era obra de engenharia. Uma das últimas da sua categoria. Virou monumento depois de tornada inútil. De qualquer maneira, já era, já foi. Temos todas aquelas belas fotos pra lembrar. Esta é uma discussão inútil, considerando o fato de que a Ilha na qual a ponte se apoiava não existe mais. Nem o continente, como era até a pouco tempo. Agora o Litoral catarinense fica a centenas de quilômetros continente adentro. Quer dizer, o que se considerava litoral catarinense. Hoje, o Paraguai e a Argentina disputam aquela faixa de litoral. E os uruguaios ainda argumentam um direito religioso, baseado em crenças pascoalinas deles e no princípio do direito brasileiro que versa sobre o uso capião. Uma lambança. O Governo Federal anda ocupado demais com a preservação da cidade de São Paulo, depois que as duas primeiras capitais da pátria foram engolidas sem cerimônia pelas águas em um intervalo de meros quatorze anos. A elevação de Brasília em cem metros, noventa anos atrás, ainda perturba. Mas nada perturba Brasília. Flutuará, no colapso final do continente. Pobre gente que lá ficar, esperando por raminho.

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