Ontem vi uma comédia alemã sobre Hitler chamada ''Mein Fuhrer''. Pois é, isso mesmo. Finalmente os alemães conseguiram fazer troça e tentar entender por si próprios aquela maluquice que ninguém conseguiu entender direito até agora, mas que pra eles é um terror bem mais complicado de se encarar que para qualquer outro observador além dos judeus e dos estados invadidos pelo nazismo. São acusados de cúmplices daquela coisa, afinal.
Em certa cena, o Hitler em frangalhos procura seu professor judeu de dicção e atuação nos aposentos deste e de sua família. Deita entre eles e dorme. Nem nota a tentativa de assassinato da esposa do ator judeu. O ator judeu ainda argumenta que Hitler é ''apenas uma vítima de um pai violento e de condições adversas.'' Não que tenha se afeiçoado a Hitler, apenas considera que tenha entendido algo a respeito do comportamento do chefao. Ainda quer matá-lo. Só não conseguiu aceitar o pragmatismo da esposa, que não quis desperdiçar aquela oportunidade única. Estava fascinado pelo algoz-mor. Era covarde ou humano demais para matá-lo assim, em seu complicadamente adquirido leito matrimonial e na presença dos filhos (vejam o filme para entender essas circunstâncias).
Não sei por que razão esse filme não foi motivo de polêmica e discussão, apenas desconfio. A questão, pelo que entendi, não é a justificativa psicológica e moral dos atos de Hitler e seus seguidores diretos - coisas que o filme ridiculariza de maneira elegantemente engraçada - mas atentar para o fato de que tudo o que aconteceu por aqueles dias foram obra de humanos, como nós. Falíveis e influenciáveis.
O apoio do povo alemão, no fim das contas, não foi muito diferente da maneira como a maioria dos norte-americanos encararam e encaram a tal da guerra ao terror hoje em curso. Amavam o seu país e acreditavam em seus líderes. Com a desvantagem de nao contarem com fontes independentes de informação.
Mas o que eu achei mais bacana nesse filme foi o fato de que, ao humanizar Hitler - que faz xixi na cama e chora ao lembrar das surras do pai - não humanizam o grande monstro político que foi. Explicitaram sim a ''monstrualização'' do homem e do seu meio, a sociedade. Hitler foi só a cara feia e visível de uma maneira equivocada da massa se mover e manifestar-se que, dotada de voz, cara e opinião equivocadas - produtos de si mesma - é capaz que tudo.
Muitos reclamam do fato de Tarantino ter matado Hitler em seu estupendo ''Bastardos Inglórios''. O assassinato de Hitler que Tarantino bolou é magnífico. E que se fodam os puristas históricos, a Arte e a Ficção estão aí justamente pra desopilar e tentar compreender a humanidade e o animal que a faz acontecer.
Mas, ao botar Hitler de quatro, chorando, lamentando sobre as surras do pai, como um incapaz sexual, um alienado manipulável pelo seu ministério corrupto, um sujeito enfim entregue à demência que o motivou a fazer tudo aquilo que fez, apenas aponta o dedo pra todos nós.
Hitler não era nem nunca foi o super-homem. Muito menos aquele do Nietzsche. Estamos longe disso, ainda. Era só alguém que TODO O MUNDO deixou convencer a Pátria que, grosso modo, nem era a dele, de que estava certo.
Enquanto existir ignorância em massa e a manipulação dessa ignorância em massa - chamamos isso de ''política'' - teremos outros louquinhos como ele. Mais moderados, mais ternos. Uns realmente bons e preocupados. Outros se coçando pra usar o que Hitler usou, e todos os outros caras.
Não se deve esquecer, a massa ainda se move assim. Hitler foi eleito. Mussolini também. Assim como Bush Jr. e o Coronel Chavez. O Ahmadinejad e o Shimon Peres. E o Lula e o Obama, que são os caras. Todos eleitos. Democraticamente. Não falaremos dos óbvios ditadores que persistem. Mas o princípio é o mesmo. A massa.
Ah. No Brasil o filme foi lançado com o título de ''Minha Quase Verdadeira História''. Produção alemã de 2007 com direção de Dany Levy. Notaram isso? Alemanha, Levy, filme, nazismo, comédia. Isso já vale o filme, né?
domingo, 11 de abril de 2010
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Cara, li alguma coisa, tá muito massa, bom mesmo. Gosto disso, o humor sutil da mamãe gostosa misturado com certo lirismo. Gostei também do impacto do menino no balde com os insetos e o garfo na tomada. E gostei dos finais, é difícil escrever um bom final. Vai nessa, cara. Podemos pensar em fazer algo juntos.
ResponderExcluirUm abraço, meu véio.
Caldera.
Ele começou como um gatinho manhoso e terminou como um lobo devorador.
ResponderExcluirNem os compatriotas imaginavam que ele seria capaz de tanto. Mas não se engane, o mundo está cheio de Hitleres, só que não com o poder que ele tinha em mãos.
Abraço